domingo, 9 de junho de 2013

Um voto por uma galinha


— Oi, cumpadi, tava passando aqui perto, vim entregá umas lenha na casa do Bentão, resorvi fazê um visitinha pro amigo.
— Deixa disso, home! Não precisa tanta justificava pra visitá um amigo, cumpadi.
— Então, aproveitando, como tá na boca do povo, vim sabê do amigo se é verdade...
— Deixa de cerimônia, vá logo pro assunto.
— Como tava falando... o povo tá dizendo que o amigo vai entrá na polícia.
— Mais se é isso que o povo tá falando, pois é, é a mais pura das verdade. Pro começo vou saiípra vereador. Dispois, saio pra prefeito.
— Mais então... num era o cumpadi que dizia que os político é uma cambada safado, vagabundo, de mode que só se elege por conta de troca de galinha por voto, e com promessa de trabalho fácir pros coitado ignorante?
— Falei e sustento. Mais de tanto falá, e vê que as coisa não muda, resorvi fazê arguma coisa. Do jeito que tá não dá pra ficá. O povo não sab votá porque não tem pessoas de bem pra ele escolhê.
— Também acho. As coisa tem de mudá de rumo. O cumpadi na política vai limpá toda essa sujeira que tá aí.
— E num é, home? Num dá pra ficá quieto com tanto malefício dessa gente. Mudando de prosa, fiquei sabendo que a cumadi deu a luz pra um rapagão forte que nem um toro. Como vai ela?
— Tá acamada, de quarentena, pra se recuperá.
— A cumadi tem de si alimentá bem. Quando tiver indo, pára no quintar e pega uma galinha gorda pra fazê uma canja.
— Isso é bão, ela tá fraquinha mesmo.
— É, o cumpadi vai ter mais uma boca. Mais onde come oito, come nove, num é?
— E onde come nove, come déis, cumpadi. Mais a coisa num tá fácir não. Parece que todo mundo só usa fogão a gás, e agora ainda vem esse tar de forno microonda. Dizem que é a modernidade que chegô.
— Dispois de me elegê, vou arrumá pro amigo entregá lenha lá na câmera dos vereador.
— Ia ser loco de bão. Mais já tive por lá, oferecendo meus serviços na câ-mera, um dos vereador me falô que fogão a lenha não é politicamente correto.
— Mas isso que nós vai vê dispois que eu me elegê. É claro que é correta¬mente político ajudá nosso conterrâneo. Não se zangue, não só vô colocá o fogão a lenha como vô contratá o amigo pra cuidá do fogo pra fazê café pros vereador. O expediente é curto, duas hora por dia treis veis por semana e o salário é bão.
— Mais eu fico muito agradecido da lembrança e da confiança do amigo. Então por isso que eu vim aqui, queria me oferecê pra ajudá na campanha, pode contá com meu apoio. Então eu vou indo pra casa, cumpadi.
— Não esqueça da galinha gorda.
— Não vou esquece, não. Inté.
— Inté.
Mais tarde, em casa…
— E daí, home, falô com aquele avarento do cumpadi pra te pagá a lenha que tá devendo faiz uma data? Falô também que se ele entra na polí-tica não vai recebê um voto sequer da nossa família?
— Não diga uma coisa dessas, muié. Ele mandou inté uma galinha gorda pra ocê, me prometeu emprego na câmera. A política amolece o coração do home, ele é otra pessoa.
— Se é assim, vamô apoiá ele.


JDamasio Contos de gaveta

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