Durante anos bati na tua porta, Senhor.
Perscrutei os sinais da tua vinda nas montanhas, no deserto,
nas águas escuras do mar.
Te procurei nas cidades, nos albergues sombrios, nas praças
vazias da madrugada,
entre as putas de cicatrizes mais abjetas.
Durante anos fui um servo exemplar. Lavei com denodo
as escadarias do teu templo. Depositei begônias e
crisântemos
nos teus múltiplos altares e entoei os salmos mais puros e
ortodoxos.
Está vendo estas marcas em meu lombo, Senhor? São os laivos
de meus flagelos.
Está vendo estes olhos vermelhos? Vigílias e lágrimas sem
fim.
Minhas mãos estão duras – de ódio e desespero. Arranhadas
estão minhas faces.
E meu coração agora está oco. Durante anos
busquei o teu rosto, Senhor. Anos a fio. Todas as manhãs eu
sentava à sua porta e esperava,
como um cão. Bastava um só dos teus olhares.
Um meio-sorriso quem sabe. Um mínimo gesto de
condescendência.
Mas que nada! Hoje eu sei
que tu desprezas os que madrugam em teu encalço
e só te agradas daqueles que te renegam,
daqueles que tresmalharam e cuspiram em tua santíssima
imagem, Senhor.
Assim é o amor, a devoção e a loucura.
São regras esdrúxulas
estas que regem os eleitos e os apaixonados.
Otto
Leopoldo Winck
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