Por Luiz Costa-Lima Neto
"Em 1979/80 estive, junto com um amigo de escola, na
aldeia Xavante de São Marcos, no estado de Mato Grosso. Passamos um mês lá, nas
férias de julho. Tínhamos então 16 anos de idade e, por sermos menores de
idade, alguns índios adultos ficaram responsáveis por nós, cuidando de nossa
alimentação e nos transmitindo seus costumes e tradições.
Trinta anos depois, o amigo com o qual viajei para a aldeia,
e que eu não via há muito tempo, me telefonou dizendo que Germano Tsiwari, um
daqueles índios Xavante, estava no Rio de Janeiro e queria me rever.
Imediatamente fui com meu filho reencontrá-lo.
Eu havia me esquecido de como eram os índios. Ao chegar na
casa de meu amigo, o próprio Germano veio abrir a porta. Ao revê-lo, eu disse
algo como: "Há quanto tempo! Que saudades!" Mas Germano me olhou em
silêncio, pegou na minha mão e nos conduziu pelo corredor até seu quarto, onde
nos fez sentar na cama. E começou a chorar... Chorava e cantava ao mesmo tempo,
balançando lentamente o corpo, enquanto segurava a minha mão e a de meu filho,
ambos um pouco atônitos em ver aquele índio alto e forte soluçando como uma
criança.
Era o canto da saudade, que eu só havia escutado uma vez na
aldeia, de noite, entoado por uma mulher cujo companheiro tardava em retornar
da caçada. Um canto estranho e repetitivo, com uma melodia descendente que
começava forte e ia diminuindo, antes de ser reiniciada. Sem saber o que fazer
ou dizer, fiquei ali, junto com meu filho, surpreso e emocionado, até que o
canto cessou.
Por quê tratamos tão mal os índios? Por quê lhes devotamos
tanto ódio? Até quando eles serão assassinados e suas terras tradicionais
invadidas? Onde estão a Justiça brasileira, os Órgãos Governamentais e a
Polícia Federal?
BASTA!!!"
Via Regina Dalcastagnè
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