Quem me contou esta lenda foi minha falecida vó Lena e
resolvi posta-la aqui.
Há muitos anos, num vilarejo chamado Butiá do Lajeado,
região rural da cidade de Mafra, em Santa Catarina, existia um casal de
lavradores que tinha uma casa de madeira no meio do mato. Um certo dia, a
mulher deu à luz ao seu primeiro bebê,
bem numa noite de eclipse. Mas, a parteira se assustou ao ver o sexo
deste neném e explicou:
- Esta criança é hermafrodita, pois têm os dois órgãos
genitais. Diz a tradição que isto costuma acontecer com bebês que nascem em
noites de eclipse.
Assim, o pai do neném exclamou:
- E, agora?
A parteira sugeriu:
- Criem esta criança como se fosse menina. Mas, evitem que
ela tenha muito contato social. Em vez de leva-la para a escola, alfabetizem a
pequena em casa mesmo. Porém, nunca deixem sua filha cruzar a ponte que separa
Mafra da cidade de Rio Negro, pois deste outro lugar para cima, sua aparência
ficará masculinizada.
Deste jeito o neném foi batizado de Maria e passava a
maioria do tempo trancada em casa. Apenas saia para ir às missas e às festas
religiosas acompanhadas dos pais.
O tempo passou, a garota cresceu e chegou à adolescência. Um
dia, esta jovem foi à festa de Santa Rita junto com os seus pais. Porém, a
menina passou o tempo inteiro encarando outra adolescente no evento. Quando
seus parentes se descuidaram, Maria se aproximou da outra garota. Assim ela
descobriu que sua nova amiga morava em Rio Negro, cidade vizinha, e pediu o
endereço dela. Já que naquela época, não havia telefone disponível e muito
menos Internet.
Maria começou a sentir algo muito profundo, com relação a
sua nova colega que não sabia descrever. Um certo dia, seus pais foram a outro
vilarejo e deixaram a adolescente sozinha em casa. Por isto, ela decidiu pegar
uma carroça e visitar sua mais recente amiga.
Porém quando ela cruzou a ponte que separava Mafra de Rio
Negro, transformou-se num rapaz. Logo, a moça sentiu algo estranho, pegou o
espelho que tinha na bolsa e se assustou ao ver a transformação. Mesmo assim
não desistiu de ver sua colega. Quando, finalmente, chegou ao endereço
desejado, ficou na rua observando a casa da garota. Quando, de repente, a jovem
apareceu na janela, avistou a aparência masculina de Maria e se apaixonou por
ela. Deste jeito, uma se aproximou da outra e começaram a namorar. Para
contornar a situação, Maria mentiu que se chamava Pedro e confessou morar numa região
rural de Mafra.
Deste jeito toda a vez que os pais de Maria caminhavam para
longe, a jovem cruzava a ponte que separava Mafra de Rio Negro para ver a
amada, com a aparência de Pedro. O problema é que a nova namorada possuía um
noivo chamado José. Um certo dia, este rapaz descobriu tudo, seguiu Maria e
jogou a carroça junto com a pobre da ponte Rio Negro-Mafra. Porém a partir
daquele dia, este hermafrodita virou um fantasma que até hoje, segundo a lenda,
assombra esta ponte. Muitas pessoas afirmaram ver uma moça, numa carroça, que é
mulher quando a ponte ainda está em Mafra, mas que vira homem quando seu meio
de transporte chega à cidade de Rio Negro.
Luciana do Rocio Mallon
Nenhum comentário:
Postar um comentário