sexta-feira, 17 de julho de 2009

Beija Suave a Minha Nuca

…”demorei a entender que és mulher

e carregas outonos na nuca”

Luiz Felipe Leprevost, em Ode Mundana




Uma pinta de beleza

brotou sob o seio esquerdo,

para o menino

devorador de sinais de beleza.

Rito de oferta,

olhando este corpo mascavo com digitais

impressas,

buscando um poro virgem para plantar

a pétala,

e te oferecer depois

— rosa a ser desvirginada —

Um dia, li os versos epifânicos,

do amigo solar — profeta

sem saber —

que há em mim apenas outonos

para esfriar verões de acordes…

e o amigo do amigo solar

nem sabe,

do mantra que eu repeti meses a fio,

a caminhar por ruas e corredores e

antes de adormecer, recitando suave

como prece:

beija suave a minha nuca!

beija suave a minha nuca!

beija suave a minha nuca!…

de outonos adornada… e a pinta recém-nata,

gota de meu coração que vazou sobre a pele,

ou um prêmio extra que trouxe destas noites

em que adentro oceanos estranhos

e te procuro entre as estrelas naufragadas.


Bárbara Lia é professora de História e escritora. Vive em Curitiba-PR. Publicou os livros de poesia O sorriso de Leonardo (Curitiba: Kafka Edições Baratas, 2004); Noir (Curitiba: Ed. independente, 2006) e O sal das rosas (São Paulo, Lumme Editor, 2007). Fonte Germina.

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