o poema, só quando for impossível traduzir um estado
interior de outro modo
algo inexprimível, assim como o cheiro de café expresso que
tomava conta da
Praça Roosevelt a provocar um retorno a invernos de outras
cidades
e para relatar como foi aquela encenação da Teogonia, do
poema sobre os
mitos arcaicos, a vida e a morte, o fim e o recomeço como
etapas do
mesmo ciclo luminoso
pois a Terra, aquela noite, era um bólido que atravessava
acelerado o
universo e uma torrente de chuva
as gotas da noite na partitura dos minutos estampada no para
brisas
a tempestade nos encerra no centro do planeta que tem a
forma
de uma garagem subterrânea
e poemas são escritos assim, de madrugada
para dizer que nossos dentes são sensuais,
nossas mãos são tão leves
e quando nossos corpos se tocam
o vazio é perfeito
e o mar está em nós
e agora devo habituar-me a inesperadas proporções e novas
simetrias de
estarmos juntos,
pois somos a extensão de um texto de frases entrecortadas
sobre o alvor fugidio, o clarão que nos separa do amanhecer
de um dia
seguinte
quando o cheiro de outro corpo, o seu, me acompanhar e vier
acrescentar-se
à minha biografia
Claudio Willer
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