sábado, 1 de junho de 2013

OS POETAS PAULISTAS


o poema, só quando for impossível traduzir um estado interior de outro modo
algo inexprimível, assim como o cheiro de café expresso que tomava conta da
Praça Roosevelt a provocar um retorno a invernos de outras cidades
e para relatar como foi aquela encenação da Teogonia, do poema sobre os
mitos arcaicos, a vida e a morte, o fim e o recomeço como etapas do
mesmo ciclo luminoso
pois a Terra, aquela noite, era um bólido que atravessava acelerado o
universo e uma torrente de chuva
as gotas da noite na partitura dos minutos estampada no para brisas
a tempestade nos encerra no centro do planeta que tem a forma
de uma garagem subterrânea
e poemas são escritos assim, de madrugada
para dizer que nossos dentes são sensuais,
nossas mãos são tão leves
e quando nossos corpos se tocam
o vazio é perfeito
e o mar está em nós
e agora devo habituar-me a inesperadas proporções e novas simetrias de
estarmos juntos,
pois somos a extensão de um texto de frases entrecortadas
sobre o alvor fugidio, o clarão que nos separa do amanhecer de um dia
seguinte
quando o cheiro de outro corpo, o seu, me acompanhar e vier acrescentar-se
à minha biografia


Claudio Willer

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