Bárbara Lia
Havia a aurora boreal no livro de vovô,
a lenda chinesa, as badaladas sinistras
do relógio de madeira, arco-íris, chuvas,
enxurradas, vovó recitando Alan Poe.
Havia o cheiro de canela, bolinhos,
a lenha ardendo vermelho-vivo,
o canto doce das cigarras,
o primeiro amor, ecos de Woodstock.
Uma menina nua correndo da guerra,
uma cascata, canções de Assis.
Olhos claros que eram oceano e céu.
Havia na alma a torrente da vida,
escrevi a primeira sílaba,
a segunda — até hoje escrevo — quantas mil?
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