quinta-feira, 18 de julho de 2013

Galhos Secos



Eu gostava daquele pássaro de feição assustada
Aprisionando como um bandido dentro de mim
Refém das minhas ansiedades e sentimentos
Que jamais notaram que o amor pode sufocar

Foi um tempo de álibis e cegas esperanças
Ludibriando meus incontáveis devaneios
Que mimavam um pássaro meigo e confuso
Forçado a deixar a vida menos insuportável

Contudo para tanto peso era mais que justo
Que o pássaro reivindicasse o seu espaço
Portanto abri as portas e fiz-me sentir dor
Nas estacas do abandono que me cravavam

E foi assim por transversos discernimentos
Que o pássaro num canto triste se libertou
E voou o mais alto e o tão longe que pôde
E navegou todas as decisões dos seus pares

Sobrevoando os céus dum mundo
Sobriamente cinza e tão somente seu
Pois em seus vôos quase não há cores
Mas sim tempestades por onde pouse

Sim, sei que tudo permanece no passado
Assim como sei que em tempo presente
Haverá desenganos de sua sensibilidade
Que se amputa à doce nostalgia do olhar

Olhar que não me nega as verdades que conheço
Pois quando vaza sua saudade transborda também
A necessidade de rever e se amparar nessa árvore
Que agora se despe das contradições e lamentos

E deste jeito a vida segue, a dele e a minha
Numa fria realidade que desaponta dedos
Não há tristezas e tudo está como deve ser
Afinal a dor dói tanto que desiste de doer

Infelizmente nada fere a árvore que me tornei
Não tenho raiz e nem o viço das antigas ramas
Sou apenas caule tombado que não mais seiva
E nem ressuscita no vento das quatro estações

Hoje quem vê o abandono dessa árvore
Orvalhada na opaca crueza do cimento
Percebe nela a indiferença ressequida
Onde não há sensação do frio ou calor

Pois o que resta é angústia, é secura de vida
Melancolia inerte fustigando os galhos secos
Definhados na languidez dum corpo-tronco
Até que a sábia natureza, encolerizada...

... os assopre como se fossem pó

Copirraiti15Jul2013

Véio China©

Nenhum comentário: