sábado, 13 de julho de 2013

O Mexilhão



( Àquela de copo na mão )

Úmida, rosada
incógnita
ensimesmada
nas franjas
de um silêncio entre valvas:

broto de um ramo distante
guardião do compasso
da maré de quadratura:

como tornastes
um quase obsceno
refúgio
a exalar a fragrância do cio
e do sal ?

que tanto almejaste
em vida
nas noites de preamar
quando fugiam-te
os sumos
nas águas da continuação ?

Túrgido grelo do tempo
embebido nas dobras
de um paramento
de vulva:

olhar-te assim, amanteigado
e ardente
desperta a saliva na boca

traz o encanto
da volúpia

e uma viva memória

agarrada na rocha

Assis de Mello

Um dos poemas do  livro "Na Borda da Ilha". Ed. Lumme, 2010

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