Meu nome é Luciana do Rocio Mallon, resido em Curitiba e sou
repentista, que é o poeta que faz versos de improviso com as palavras que as
pessoas pedem na hora.
Descobri este dom, já no jardim da infância, numa
brincadeira em que um aluno dizia uma palavra e outra criança deveria fazer um
verso com este tema. Eu usava este jogo somente em círculos de amigos. Mas, em
2003, passei a frequentar saraus e eventos onde eu mostrava esta minha
habilidade. Porém numa apresentação de repentes, um senhor de idade exclamou:
- Repentista mulher?!
- Como pode uma coisa destas?!
- O repente não admite meninas e elas não foram feitas para
isto. Pois moças devem contar historinhas para as crianças e não fazer poemas
de improviso.
Naquele instante resolvi ignorar aquele senhor. Depois fui
às bibliotecas, à Internet e fiz entrevistas com professores para pesquisar a
origem do repente. Logo, descobri que este jogo de fazer poemas com as palavras
na hora, tem origem nas mulheres da Grécia. Naquela época, as moças gregas
ficavam num lugar chamado Gineceu que era um espaço exclusivo para as mulheres.
Lá elas exerciam várias atividades, compartilhavam conhecimentos e
brincadeiras, um destes jogos era fazer versos com a palavra que outra moça
pedia já que, naquela época, uma mulher além das prendas domésticas deveria
saber Poesia e Música. Quando elas recebiam visitas de estrangeiras costumavam
passar esta cultura para estas outras amigas. Assim a arte do repente foi se
espalhando pelo mundo. Como a sociedade grega era muito rígida e preconceituosa,
as mulheres viram a suas poesias, criadas no Gineceu, como um método de
libertação.
Portanto, o repente, foi criado por mulheres e nada mais
justo do que haver moças que exerçam este tipo de Arte, nos dias de hoje.
Quanto ao preconceito de ser uma repentista mulher, ás
vezes, enfrento esta situação até hoje. Mas procuro esclarecer as pessoas de
que Literatura e Poesia não tem sexo, pois a Arte é universal. O interessante é
que através de pesquisas, descobri uma repentista do sexo feminino, de
Portugal, da região do Alentejo, seu nome é Maia Rosa Madalena. Porém, não
consegui mais informações sobre ela. Já, com relação ao Nordeste do Brasil,
encontrei nomes como Maria Soledade, Mocinha da Passira, que também é bailarina
folclórica, Zefinha do Chambocão e Minervina Ferreira. Porém acredito que o
número de moças que exercem o repente seja bem maior. Espero que elas se
manifestem cada vez mais porque só desta maneira é possível acabar com o
preconceito.
Luciana do Rocio Mallon
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