Botei minhas mãos no barro,
viraram raízes. Olhei o chifre da lua:
meus olhos luziram de pasmo.
Num átimo, consegui vislumbrar
o mecanismo secreto das coisas.
Agora eu sei que toda forma de amor é clandestina
e que, quando as mãos se tocam em dádiva,
algo se move no interior dos seres
-- e este algo é tão cálido, tão vasto,
e no entanto tão frágil,
que eu chego a me prostrar submisso.
Se eu vim até aqui é porque não volto mais.
Se minhas mãos são raízes
é porque agora eu conheço
a sustância obscura da terra.
Viver é precário: basta um susto, um sopro, um nada
e a paisagem toda se dissolve.
Mas prometo guardar, enquanto memória eu tiver,
a imagem do teu rosto
enquanto teu corpo,
aberto em êxtase,
se me oferecia
como um regalo:
um nadir, um graal,
uma escritura antiquíssima
que agora
eu decifrava.
Otto Leopoldo Winck
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