Esta noite, se quiseres, podes recordar,
recuperar no rio do tempo uma parcela do que o tempo te
levou:
o sol poente, o banco, o parque, a última conversa,
a frase que, louca, te feriu a face
ou a palavra que, covarde, amargou calada na garganta
quando na verdade tu a deverias ter gritado aos sete cantos.
Podes apenas recordar. No máximo, concatenar os fatos
e tentar descobrir aonde erraste. E dizer-te: foi aí que me
danei, foi aí.
Mas de que adianta? Águas passadas não movem moinhos.
E, convenhamos, tu nunca foste um Quixote para enfrentá-los.
Resta-te somente
recordar, reviver – o que não tem necessariamente relação
com o que foi
ou deixou de ser vivido - abrir um uísque, ouvir um jazz,
encher a cara...
E mergulhar nas águas escuras do rio.
Não o rio do tempo, que, cristalino e impassível, se ri de
ti,
mas o rio de águas sujas que banha a cidade de teus tempos
idos,
esta cidade que, estrangeiro, revisitas agora...
Mas o mais provável é que apenas acordes de ressaca.
Otto Leopoldo Winck
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