a púrpura com luz e a turva bifrenária – um gesto de
azinhavre. Eni abre o portão, manchas solares
confabulam: (esvai-se o verão). Seus olhos
suspeitam, temem o susto das mudanças
incríveis, repelem o jardim bifronte ao sopro do
crepúsculo. De verde amargo e quinas de ferrugem,
um cáctus castelar, optando contra
a sombra rasa, num escrutínio de esgares, soergue
entre os cílios de Eni, por um instante, um rútilo
solar, em marcha com suas nuvens noivas!
E ela depõe, aos pés de ocre do castelo,
as pálpebras, aos poucos liquefeitas
ouro – um malentendimento de ternura
na tarde decadente, cáctus.
.
- Décio Pignatari, em "Poesia Pois É Poesia - 1950|2000". Cotia, SP: Ateliê Editorial; Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2004, p. 66.
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