Luiz Felipe Leprevost
sou antigo na dor mas nunca poderei me cansar. dessa vez
nenhum pavor por dentro, nem aquilo dela ficar dando voltas em torno dos sins.
não me dê a mão, não temos braços tão longos. na rua as poças engolem homens
parecidos com o que eu fui até dez dias antes de trocar de pele. calados, como
que por meios telepáticos, conversamos. ela se move como o veleiro que deixasse
o porto na direção de uma viagem longa de retorno, trazendo a si e trazendo
alguém em si até chegarem com a rotação da Terra nesta sala. as paredes não
estão sangrando dessa vez. o vinho que ela toma, e assisto seus olhos molharem
de tesão. sorrio um sorriso que não sentia no rosto há mais de seis anos: ele é
um testemunho. enquanto estivermos vivos, penso, enquanto estivermos vivos
estaremos, de algum modo, em contato. sei que nem tudo é um acerto. o quarto,
ainda desconhecido, está paciente mas geme. nem minha Garota, nem minha Senhora
ela é. invento que ela diz: a chuva existe pra nos mostrar a solidão do mundo.
depois sua boca me dá de beber e diz: este beijo é pra mostrar que ainda estou
aqui
Nenhum comentário:
Postar um comentário