sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Luiz Felipe Leprevost



sou antigo na dor mas nunca poderei me cansar. dessa vez nenhum pavor por dentro, nem aquilo dela ficar dando voltas em torno dos sins. não me dê a mão, não temos braços tão longos. na rua as poças engolem homens parecidos com o que eu fui até dez dias antes de trocar de pele. calados, como que por meios telepáticos, conversamos. ela se move como o veleiro que deixasse o porto na direção de uma viagem longa de retorno, trazendo a si e trazendo alguém em si até chegarem com a rotação da Terra nesta sala. as paredes não estão sangrando dessa vez. o vinho que ela toma, e assisto seus olhos molharem de tesão. sorrio um sorriso que não sentia no rosto há mais de seis anos: ele é um testemunho. enquanto estivermos vivos, penso, enquanto estivermos vivos estaremos, de algum modo, em contato. sei que nem tudo é um acerto. o quarto, ainda desconhecido, está paciente mas geme. nem minha Garota, nem minha Senhora ela é. invento que ela diz: a chuva existe pra nos mostrar a solidão do mundo. depois sua boca me dá de beber e diz: este beijo é pra mostrar que ainda estou aqui

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