Navegando ao léu
ouvi [ ] límpido
o canto sibilino da sereia
vislumbrei no desmedido meu destino
e enveredei então pelas brumas
como se entranhasse pelos céus
encantado, já não era eu, mas deus
entreguei-ma à cegueira de todos os sentidos
apaixonado extasiado entesado
pela umidade brilhante das escamas
pelos olhos azuis por onde se mergulhava no oceano
pelos volteios voluptuosos e serpenteantes do seu corpo
pela gosma marinha que me siderava
pelas mãos boca narinas
ávido busquei com a lábia língua
uma ostra nela e inteiramente
humano não achei sua vagina
estanquei no descaminho
diante do interdito para o abismo sonhado
e frustrado com o irredutível mas ávido de amor
comi a sereia e a roí inteira até as brânquias
e brânqueos ossos que me restaram às mãos fosforescentes
para iluminar a noite de meu caminho de retorno até aqui:
Ademir Demarchi, in Pirão de Sereia, Realejo, Santos, 2012.
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