Marinheiro náufrago,
teu corpo está todo
coberto de ostras,
mariscos, corais.
Teu hálito é sal,
na dor mais aguda
da noite oceânica
por ti refinado
à sós, em segredo.
Escuro é teu dorso,
teu ventre também,
como o mar obscuro
em noite sem lua,
sem sombra de estrela.
Teus braços, imóveis
ao longo do corpo,
não pedem socorro
nem podem pedir.
Tua boca estacou
– tentaste um grito? –
abalroada de algas,
calada de frio.
Teus pés são tentáculos
que tentam em vão
agarrar-se à areia
–inútil tarefa
de rarefeita âncora.
Só teus olhos brilham,
marinheiro náufrago,
brilham, brilham, brilham,
abertos na terra
mais densa da noite
como duas lâmpadas,
duas grandes pérolas
sobre um velo negro.
Por isso eu desejo:
dorme, marinheiro.
Otto Leopoldo Winck
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