Pelas andanças ao interior do Paraná, depois de um trabalho
gratificante em um colégio, saí para conhecer a cidadezinha. Já era meio da
tarde quando entrei em um bar; tinha sede, queria um suco, mas pedi água
mineral. A mocinha veio me atender com um sorriso de boas-vindas e depois do
pedido ela sorriu novamente, as covinhas nas faces dela e seus lábios carnudos
molduravam seus dentes brancos. Ao pegar a água e servir meu copo, um novo
sorriso. Pude apreciar aquele belo sorriso de outro ângulo. Maliciei, sorri de
volta e dei uma piscadinha; ela me servia com a mão direita, então eu não sabia
que era casada e nesse momento nem lembrava que eu também era. Mas foi uma
piscadela de um olho só! Vendo no dedo da mão esquerda a aliança, fiquei sem
jeito. Quando tomava meu primeiro gole de água, do nada me aparece um homem de
faca na mão, como esses maridos ciumentos aparecem do nada. Não tive tempo de
argumentar, nem saberia o que falar, na verdade. Ele veio em minha direção e eu
tinha apenas uma garrafa de água para me defender, garrafa de plástico. Fui
rápido e ágil, corri e pulei a mesa de sinuca. Mas fui idiota, porque corri
para o lado errado: havia eu e a parede da janela pela qual eu poderia me jogar
e um marido ciumento com faca na mão para enfrentar. Resolvi conversar: “Calma
aí, foi um mal-entendido, sua esposa riu de mim, não para mim, mas não fiquei
chateado, estou acostumado, tenho essa mania de piscar”. Eu piscava rapidamente
com os dois olhos e um de cada vez para ser mais convincente. Ele me ouviu e
riu da minhas piscadas. Vendo que as coisas ficaram calmas: “Agora com licença,
vou pegar minha água, estou com a boca seca e vou embora; antes, porém, sou
escritor, queria apresentar para vocês meu novo livro de contos, são histórias
de vários temas, algumas engraçadas outras trágicas". Continuava piscando.
O homem comprou meu livro e pediu dedicatória. Eu fiz: "Para o casal
querido com carinho e todo respeito." Quando saí, da porta olhei, a moça
sorriu de novo. E estava piscando com os dois olhos, quase que peguei o tique
nervoso. Do outro lado da rua, quando lembrei de um conto que estava no livro
de um marido traído e ingênuo, andei mais depressa. Porque, no final das
contas, não era por causa de uma piscadela de um olho só que fecharia meus
olhos de vez.
J.D
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