sábado, 14 de novembro de 2015

*kari’boca


o oceano lambe-se como um gato
do mato
meus ossos de navio
trocam a floresta
por um espelho mercante
mil indígenas assoviam
dentro das vértebras
evangelizadas
finjo-me especiaria
de pó finíssimo
estátua de colorau
o canto tribal das ondas
aprende o idioma
dos marinheiros
deixo que me cortem a língua
de pajé
cauterizo o choro titânico
nas águas falantes
que cobriam a terra
antes dos mapas
a maré vermelha bebe meu nome

***


*Andréia Carvalho Gavita. Poema declamado durante o Sarau Brasil-Itália, no Palacete dos Leões. O cocar é de um líder de tribo Kaingang do Paraná.

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