Por exemplo: chove lá fora. Eu ouço o barulho da chuva e ele
me dói aqui dentro como uma lembrança. Lembrança de quê? Não sei. Só sei que
amarga. Quando a felicidade acaba, toda lembrança é amarga, sobretudo as
lembranças dos momentos felizes. Momentos felizes? Hoje os desprezo. Quisera
ter sofrido mais, ter odiado mais, ter me enojado mais. A vida definitivamente
não é para os fracos. E eu fui fraco. Muito fraco. Por isso começo meu livro
com esta confissão: fui fraco, porra. Agora não adianta nada reclamar da chuva,
da vida, da memória involuntária. Proust foi um grande farsante. E um grande
escritor. Eu sou apenas um grande farsante. Por isso começo minha história
falando da chuva.
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