Um trechinho de minha tese (sem as notas de rodapé), que se
os deuses quiserem vai virar livro ano que vem:
Este processo de constituição do eu se dá sempre em contato
e em previsão do outro. É o outro que me constitui como eu. Em outras palavras,
sem alteridade não há identidade. Segundo Lacan, é no espelho do olhar do outro
que a criança, que ainda não consegue ver a si mesma como um ser inteiro,
constrói uma auto-imagem unificada. “Psicanaliticamente, nós continuamos
buscando a ‘identidade’ e construindo biografias que tecem as diferentes partes
de nossos eus divididos numa unidade porque procuramos recapturar esse prazer
fantasiado da plenitude.” Daí a importância do reconhecimento para a
constituição da identidade. Eu só me conheço ao me re-conhecer no olhar do
outro. Eu só me identifico ao constatar a identificação que fazem de mim. Assim,
“o não re-conhecimento ou o reconhecimento inadequado pode prejudicar e
constituir uma forma de opressão, aprisionando certas pessoas em um modo de ser
falso, deformado ou reduzido.” É como expressou Fernando Pessoa num verso do
memorável Tabacaria: “Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e
perdi-me.”
Otto Leopoldo Winck
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