sexta-feira, 18 de dezembro de 2015


Um trechinho de minha tese (sem as notas de rodapé), que se os deuses quiserem vai virar livro ano que vem:

Este processo de constituição do eu se dá sempre em contato e em previsão do outro. É o outro que me constitui como eu. Em outras palavras, sem alteridade não há identidade. Segundo Lacan, é no espelho do olhar do outro que a criança, que ainda não consegue ver a si mesma como um ser inteiro, constrói uma auto-imagem unificada. “Psicanaliticamente, nós continuamos buscando a ‘identidade’ e construindo biografias que tecem as diferentes partes de nossos eus divididos numa unidade porque procuramos recapturar esse prazer fantasiado da plenitude.” Daí a importância do reconhecimento para a constituição da identidade. Eu só me conheço ao me re-conhecer no olhar do outro. Eu só me identifico ao constatar a identificação que fazem de mim. Assim, “o não re-conhecimento ou o reconhecimento inadequado pode prejudicar e constituir uma forma de opressão, aprisionando certas pessoas em um modo de ser falso, deformado ou reduzido.” É como expressou Fernando Pessoa num verso do memorável Tabacaria: “Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.”

Otto Leopoldo Winck

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