Ando tão à flor da pele...
Sábado um rapaz se aproximou de mim e entregou seu poema
impresso, uma amiga dele leu no recital.. Ele disse que - gostou de mim - e a
reverência que as pessoas fazem à minha poesia me deixa sempre muda. Ele
conversou comigo por alguns minutos, ele estava sofrendo com algo e tentou me
dizer. Quando ele saiu, desabei. Estava na mesa com Márcio Claudino e Jandira
Zanchi... Márcio ficou espantado, somos amigos desde o início deste século, as
nossas partilhas passaram por várias etapas de nossas vidas, e o fato dele não
me ver chorar antes, isto fez com que ele comentasse e estranhasse... O
insuportável ano traz um desmoronamento, e seguem os incêndios, naufrágios...
Ando tão à flor da pele... Hoje é aniversário do Pipol e ele
não está aqui... Hoje é aniversário da Ângela... quantas vezes esta amiga me
acolheu quando me separei, quando era eu e três filhos pequenos ao redor, e ela
era uma espécie de porto seguro, sua atenção, sua calma... Nossas conversas de
mulheres guerreiras cuidando da criançada, acreditando em recomeços... Subir ao
degrau 43 de um lugar para ouvir o Guego Favetti cantar, longas tardes na
varanda falando da vida, e ela foi embora pra Recife e ela morreu tão cedo,
maldito câncer que tolhe... E fica esta lágrima encruada, esta que os
guerreiros sepultam, pois é preciso viver, é preciso ir adiante, o mundo anda
muito triste... Esta é a época da hecatombe... Este é o século da nossa
insônia... Este tempo diluído, a lama, a chama, a falta e a certeza de que
ainda não aprendemos a aceitar a transitoriedade, a gangorra da paz e do
inferno, o jogo da vida com seu sim e seu não... Foi, pessoalmente, um ano que
me trouxe alegrias... Mas, quem, sendo humano, pensa apenas na sua própria pele?
As mazelas existem, um dia você se sente usada, no outro se sente patética em
situações que a vida traz... Depois percebe... Não há como parar a roda da
vida, é continuar... continuar... continuar...
Bárbara Lia
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