fim de ano, cá na periferia, é o máximo, algo como se a
irmandade humana rejuvenescesse ao som de simone e à textura das guirlandas e arvrinhas
plásticas da casa china; as pessoas demonstram seu afeto a plenos pulmões,
embaladas pelo campo largo ordinário e doce da vendinha, além, claro, da
psicodelia das luzinhas embaraçadas dos natais passados. tento fazer de conta
que não é comigo, mal humorado e estúpido (com meus parcos graus de febre),
inútil, um vizinho bem intencionado é pior que uma testemunha de jeová. e as
bombinhas do filho da vizinha criam em mim uma irmandade tardia com o vira
latas adotado pela comunidade. contudo, a garrafa de conhaque ganhada de
presente, derrete meu coração, mas desconfio que derreterá meu fígado. logo,
virão as fatias de chester e pernil, regadas com marcas ignóbeis de cerveja -
existe uma felicidade implícita e transcendente, na simplicidade, ainda que um
tanto agressiva, do povo cá desta terrinha, um lirismo que somente a
genialidade de aldir blanc seria capaz de destilar. netflix pra quê? é só abrir
a janela e ver a vida ao vivo, com todo o timbre característico dos melhores
canos de escapamento.
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