Todas as cousas têm o aspecto vago e mudo
Como se as envolvesse uma bruma de incenso;
No alto, uma nuvem, só, num nastro largo e extenso,
Presinta do céu calmo a caris de veludo.
Tudo: o campo, a montanha, o alto rochedo agudo
Se esfuma numa suave água-tinta... e, suspenso,
Espalhando-se no ar, como um nevoeiro denso,
Um tom neutro de cinza empoeirando tudo.
Nest′hora, muita vez, sinto um mole cansaço,
Como que o ar me falta e a fôrça se me esgota...
Som de Ângelus, moroso, a rolar pelo espaço...
Neste letargo que, pouco a pouco, me invade,
Avulta e cresce dentro em mim essa remota
Sombra da minha Dor e da minha Saudade.
- Francisca Júlia da Silva, em "Esfinges", 1903
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