De Mara Paulina Arruda
O Professor já um tanto meio surdo estava deitado no sofá de
frente para a janela. A metade da cortina puxada. Ele via o céu. Neste espaço
entre o céu e o seu ver algumas aves passavam e interrompiam sua leitura
fazendo um risco de sombra na luminosidade que ele recebia. Estava, sim, que
bom, de férias! Deliciava-se com essa folga e lia sobre os ciganos. Imbuído dos
mistérios deste povo refletia: como seria viver assim entre carroças e cidades
novas a cada mês?
Voltava os olhos para tempos idos. Que ano?
Foi próximo de um assentamento. Ele viajava de Santa
Catarina para o Rio Grande do Sul quando viu no meio da rodovia três ciganas
sentadas em frente de uma barraca. Uma via o futuro da outra, a outra fazia
trança nos cabelos de uma. Estavam vestidas a caráter, sobre a cabeça lenços
com pingentes pregados nas bordas. Em iídiche as ciganas se comunicavam.
Na viagem um dos pneus do carro furou. Ele foi obrigado a
parar ali. Buscou o estepe e quando começava a troca uma das ciganas apareceu
se oferecendo para ler a sua sorte. O Professor agradeceu sem olhar para a
cigana. Estava envolvido com o carro. Ela, insistiu e pediu que ele fosse até
onde elas estavam, ouvisse uma delas que iria ler a palma de sua mão. Depois,
talvez, um pouco das lendas ciganas elas contariam.
Ele parou. Viu os olhos amendoados, mãos e braços cheios de
anéis e pulseiras... Foi.
Para ai!
O Professor se levantou do sofá.
Cheio de dúvidas não sabia mais se era o livro que lia ou se
era a verdade vivida.
Alguém já tinha dito pela manhã: meu velho meu velho...
Cuidado!
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