De Mara Paulina Arruda.
O indiozinho catava formigas no musgo da rua. Comia. A irmã
dele catava piolhos na cabeça do indiozinho que não parava. A mãe trançava a
palha, a fibra de bambu. O pai fumava, acocorado no fio da rua. Nas horas de
folga esculpia tartarugas, onças e tamanduás na madeira. Uma lua, duas luas se
passavam e então se levantavam juntando suas coisas e iam para outra esquina da
cidade. Dois sóis, três, chuva, frio, o cobertor nas costas da mãe que no filho
não havia necessidade. Precisava aprender com o tempo. E assim, de tempo em tempo,
o indiozinho crescia, dobrava a esquina, desaparecia. Quando de novo voltava já
não vinha mais sozinho. Junto dele outro indiozinho mamando no peito da índia,
filha do cacique da outra aldeia onde ele foi parar para descansar. Começava
tudo de novo: Aprender com o pai a fumar no fio da rua, buscar fibra de bambu
para a mãe de seu filho tramar outros balaios enquanto o filho começava a
engatinhar e a caçar formigas pelas ruas.
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