© Cláudio B. Carlos
Havia um bolo sobre a mesa. Redondo e pequeno. Eles cantaram
parabéns e eu soprei as velinhas. Mamãe cortou o bolo. A primeira fatia pra
mim, a segunda pro papai e a terceira e última pra ela. Papai comeu de pé,
escorado na parede de madeira, ao lado da cristaleira, e bebeu cerveja. Mamãe
comeu à mesa comigo e tomamos guaraná. Depois eles foram pro quarto e trancaram
a porta. Acho que sentiam dor. Gemiam. A dor devia ser muito forte. Se
contorciam na cama. Dava pra escutar o ranger das molas do colchão. Eu fiquei
sentada olhando pro bolo com as mãos como que em oração, postas no regaço do
vestidinho florido. Havia
cinco velinhas no bolo. Era março de 1977.
Do livro “Um arado rasgando a carne” – 3ª edição, 2012.
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