segunda-feira, 5 de janeiro de 2015


● cansamos da antiga caverna ●
● com aquelas fogueiras cansativas ●
● aqueles escravos alimentando o fogo ●

● aquelas pedras negras e sujas ●
● aquelas goteiras aqueles morcegos ●
● o frio o cheiro de queimado a treva ●
2
● cansamos de tudo aquilo ●
● mandamos nossos escravos cobrirem ●
● com espelhos as paredes da caverna ●
● espelhos de todos os tipos ●
● jogar fora a madeira o carvão a cinza ●
● acendendo luzes em todos os lugares ●
3
● so não tocamos nos escravos ●
● q continuam como sempre rindo ●
● muitas vezes dançando e cantando ●
● como se fossemos seus deuses ●
● como se a vida fosse assim mesmo ●
● como se a escravidão fosse boa ●
4
● agora nossa caverna é um paraiso ●
● tem agua corrente tem quartos e salas ●
● tem cozinhas banheiros e lixeiras ●
● da antiga caverna nem o chão ●
● agora vivemos inteiros na verdade ●
● sabendo q essa é a unica verdade ●
5
● dificil so todos esses espelhos ●
● q multiplicam variam e deformam ●
● tornando tudo nitido claro demais ●
● os rostos os corpos os desejos ●
● as dores se multiplicam a fome ●
● se tornou insuportavel e sem fim ●
6
● o gozo dilacera arranca pedaços ●
● cada prazer é um abismo um talho ●
● de lamina de fio afiado demais ●
● os escravos riem dançam gargalham ●
● trotam pela caverna com desdem mas ●
● continuam a cantar e a cuidar de nos ●
7
● tudo foi se tornando infinito ●
● com tantos espelhos tantos escravos ●
● tantas salas tantos quartos e dores ●
● tamos assim paralisados no centro ●
● da caverna tamos paralisados no centro ●
● no centro da caverna como sempre ●

Alberto lins caldas 

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