terça-feira, 16 de junho de 2015

Janela Vampira


A casa de Dalton Trivisan, tal como ele, inspira mistério e perversão. Cinza, num clássico estilo curitibano dos anos 30, 40, fica numa esquina, quase no meio da rua.
Ao mesmo tempo, intrigante e ameaçadora, sedutora e repelente.
Porém, não invisível com há de querer nosso mítico e arisco escritor. A casa, implantada alinhada à rua, não tem nehuma porta voltada diretamente prar ela.
Aliás, as grandes janelas das fachadas estão sempre fechadas.
Uma delas, voltada para a Amintas de Barros, tem só a enorme esquadria, denunciando que ali houve uma janela.
Como uma boca amordaçada, a Anastácia das janelas foi bloqueada por tijolos e alvenaria, sugerindo emparedar coisas inconfessáveis à luz do dia.
A alcova do vampiro, por detras de uma janela cega, mesmo escondida e surda, sugere sacanagens ruidosas às polaquinhas e moreninhas assanhadas da cidade.
Assim vê-se os domínios de Dalton e sua janela vampira.
É essa a despaisagem que sugere a austera fachada cinza.
Dentro, numa penumbra intransponível, o leve cheiro de café e o ranzinza ensimesmado em histórias deliciosamente cáusticas para nos fartar.

Lina Faria

revista  Etc - Travessa dos Editores, nº8:



Nenhum comentário: