A casa de Dalton Trivisan, tal como ele, inspira mistério e
perversão. Cinza, num clássico estilo curitibano dos anos 30, 40, fica numa
esquina, quase no meio da rua.
Ao mesmo tempo, intrigante e ameaçadora, sedutora e
repelente.
Porém, não invisível com há de querer nosso mítico e arisco
escritor. A casa, implantada alinhada à rua, não tem nehuma porta voltada
diretamente prar ela.
Aliás, as grandes janelas das fachadas estão sempre fechadas.
Uma delas, voltada para a Amintas de Barros, tem só a enorme
esquadria, denunciando que ali houve uma janela.
Como uma boca amordaçada, a Anastácia das janelas foi
bloqueada por tijolos e alvenaria, sugerindo emparedar coisas inconfessáveis à
luz do dia.
A alcova do vampiro, por detras de uma janela cega, mesmo
escondida e surda, sugere sacanagens ruidosas às polaquinhas e moreninhas
assanhadas da cidade.
Assim vê-se os domínios de Dalton e sua janela vampira.
É essa a despaisagem que sugere a austera fachada cinza.
Dentro, numa penumbra intransponível, o leve cheiro de café
e o ranzinza ensimesmado em histórias deliciosamente cáusticas para nos fartar.
Lina Faria
revista Etc - Travessa dos Editores, nº8:
Nenhum comentário:
Postar um comentário