domingo, 26 de julho de 2015

escalada do ódio

escalada do ódio
e eis que nos chega o dia
em que surge aquele cheiro
de esgoto e o presságio
de algo bem morto,
tão perto, visível,
mas irrefreável.
o ódio anda solto.
avança na cara dura,
endurecendo os olhares
à plena desfaçatez.
pisa emudecendo
ignora nuances,
o ódio anda solto,
soltando fumaça.
desprezando todos passos
tão sutis e a história escrita,
o sangue ferve nas veias,
pulsa no pescoço.
o ódio anda solto
e expia o outro,
chicoteia a lógica.
avatar anti-empatia,
metamorfizado em bile
de tom roxo intolerante,
o ódio anda solto:
sopitando-nos,
espumando-nos,
gotejando-nos.
mágoa monstro adormecida,
despertada pelo medo,
o ódio ainda anda solto
sem saber de tudo
que sobe à cabeça.
mas forja motivos,
planta danações.
esmerilha a sua faca,
o ódio ainda anda solto,
desembainha o metal
frio, fratricida.
rasga indiferente
tripa e coração
estoca rancores.
o ódio ainda anda solto,
vedou o respiradouro.
conclamou todos pra festa
e abriu o seu gás.
perguntam do amor.
vai bem dentro aqui,
mas já não respira.


(marcílio_godoi)

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