domingo, 26 de julho de 2015

A Musa da Vidraça


                              
Quando ela limpa a vidraça
Do apartamento em frente
A atmosfera se enche de graça
Pois tudo fica diferente!

Ela tira toda a poeira
Do vidro sujo e imundo
Tornando-se a feiticeira
De todo o resto do mundo!

Quando o trapo ela passa
Em toda a nebulosa vidraça
Com o detergente de alfazema
Ela preenche todo o universo de graça
Muito mais do que a Garota de Ipanema!

Não sei se ela é empregada
Ou é somente uma diarista
Sem ela minha tarde não é nada
Não posso perdê-la de vista!

Ela não pode limpar a vidraça
Sem ganhar nada e de graça
Porque isto seria trapaça
Ela arrisca seu pescoço delicado de garça

E o resto do seu corpo inteiro
Pois pode cair do apartamento
Num acidente traiçoeiro
Sem nenhum tipo de sentimento

Um dia, por curiosidade, fui até aquele lugar
E uma senhora idosa, lentamente, me atendeu
Falou que as janelas há anos ninguém ousa em limpar
E que a última empregada faz tempo que já morreu

Quem será a musa da vidraça
Que não deixa a janela,
Tão leve e singela,
Virar uma abandonada carcaça?

Luciana do Rocio Mallon

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