Meu pai se deitou pra sempre
sobre meus 17 anos.
Não fui enterrá-lo.
Não julguem: não pude.
Sepultei-o lentamente,
dentro de mim,
durante anos.
Aos poucos,
nas faltas cotidianas,
nas visitas que nunca mais,
nas férias sem a casa dele.
Fui derramando
em conta-gotas
todo o sal
para soterrá-lo.
Processo mais penoso,
durador,
ineficiente,
que punhados de terra
chorados
no dia em que
não pude.
Hoje, desperto e visualizo
o que não vi e
nem imaginei nunca:
seu último suspiro
sobre nós.
E é uma liberdade
mais que uma dor.
A morte do meu pai
faz parte de
mim.
Lu Cañete
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