após vinte e cinco anos de bebedeira, conheci botecos das
mais variadas estirpes: desde aqueles "cults" que, na realidade, se
fingem de botecos e nos quais as pessoas fingem que bebem, passando por bares
de faculdade, até o mais famigerado "cospe grosso". por conseguinte,
conheci bêbados das espécies mais variadas, figuras arquetípicas, e sempre, de
um jeito ou de outro, me dei bem com todos eles. aprendi muito sobre a condição
humana, nos botecos da vida, ouvi muitas histórias: cômicas, dramáticas, trágicas
e afins (todo bebum tem um certo lirismo na maneira como enxerga o mundo, uma
perspectiva poética única - no sentido forte do termo). o que não suporto nessa
coisa toda é o ex-bêbado - não me refiro àquele sujeito que parou de beber
porque quis e resolveu fazer outra coisa da vida, que ainda vai ao bar e bate
papo e se diverte com água tônica - tenho cá pra mim que bêbados são criaturas
solitárias com grande dificuldade de trato social e timidez e que, no fundo, o
álcool serve como um pretexto para anestesiar essas características e
lubrificar as relações, por isso o boteco é uma irmandade -, falo daquele cara
que deixou de ir ao bar e deixou de beber por razões externas, e criou um
recalque terrível com isso, de maneira que acaba apontando com o dedo da frustração
e condenando, o universo do qual, ele gostaria muito de fazer parte. mais ou
menos como o mito da caverna de platão, o bêbado platônico descobriu a verdade
e não se contenta em a guardar para si, quer a todo custo enfiá-la goela abaixo
de todos, num curioso exercício de tentar se edificar às custas alheias. diante
de criaturas assim, resigno-me, persigno-me e, num brinde da mais alta
erudição, digo: "jesus disse: tomai e bebei".
William Teca
Nenhum comentário:
Postar um comentário