A gente nunca sabe quando vai ser a última vez: o último encontro,
a última conversa, o último beijo, o último aperto de mão... Se a gente
soubesse, a gente se prepararia melhor para este último gesto. Nossas palavras
seriam mais solenes, nossas atitudes mais circunspectas. A gente tomaria mais
consciência do que está fazendo ou falando. Mas talvez seja melhor que não
saibamos. Não suportaríamos a certeza de que aquela seria a última vez. Foi
assim com ele aquele dia. Eles se encontraram, eles se se beijaram, eles se
amaram, eles se despediram, achando que iam se ver outras vezes, muitas vezes.
Só que seus caminhos de repente se afastaram, sem que nenhum tivesse previsto
ou pretendido isso. Nunca mais se viram. Ainda se falaram algumas vezes pelo
telefone. Mas depois de alguns meses nem isso. Até que muitos anos depois a
notícia chegou aos ouvidos dele. Ela tinha morrido. Ou melhor: tinha se matado.
Um tiro na cabeça. Se ele soubesse que aquela ia ser a última vez que se viram,
ele teria dito: Olhe, não leve a vida tão a sério.
Otto Leopoldo Winck
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