em 1993, se não me falha a memória, fui estagiário da
biblioteca pública - eu dava aula de xadrez e organizava meus horários pra
conseguir ler tudo aquilo que queria (fiz amizade com os bibliotecários e dava
pra eles listas do que eu queria ler e que, por alguma razão, nunca estavam
disponíveis nas estantes - daí descobri que existia uma certa máfia e que, pra
conseguir essas coisas, era preciso fazer parte dela - os livros que me
interessavam, iam direto pra gaveta e somente partilhados com os
"escolhidos"); foi um momento crucial na minha vida e na minha
formação, graças às indicações de camaradas, que já tinham lido quase tudo e
muito, pude caminhar numa estrada com menos pedregulhos. eu já tentava escrever
há algum tempo - devo ter meus cadernos aqui em algum lugar e, obviamente, vou
destruí-los, já que a posteridade só terá o que é mais ou menos bom de mim. é
bem curioso quando ouço alguém dizendo que não lê para não ser influenciado e
descobrir sua propria "voz", pra mim isso é piada, e já ouvi muito
isso. creio que pra escrever, é importante ler muito, escrever muito - óbvio, e
ter paciência, leva tempo e trabalho, creio que também é importante confrontar
sua voz com outras, sobretudo, com gente honesta em sua crítica (não existe
esse papo de "ai, eu escrevo pra mim", mentira, o sujeito escreve pra
ser lido): os condescendentes são uma praga, mas os que só esculhambam também o
são; nem todo mundo precisa ganhar um jabuti, escrever é um exercício de
autoconhecimento e humanidade. tem muita gente de qualidade por aí que pra
muitos são ilustres desconhecidos. mas, se ocorrer de você ganhar um jabuti,
ótimo, da próxima vez, você paga a cerveja.
William Teca
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