Tenho medo de acordar de um sonho e descobrir que estou em
outro. E em outro, e em outro... No último sonho encontro você. Dormindo. Mas
não é só isso. Descubro que estou no seu sonho. Que eu sou o sonho que você
sonha. E que se você acordar deixarei de existir. Começo a suar frio, choro,
rezo... Não acorde, meu amor, não acorde nunca. Uma lágrima minha rola no seu
rosto. Você abre um olho -- e eu sinto que começo a desaparecer. Grito,
desesperado. Você se assusta e acorda. Pronto. Acabou o último sonho que me
sustentava. Agora sou só uma sombra de ideia, o eco de um eco, sem corpo, sem
forma, sem nada, vagando nas solidões dos espaços vazios. Ser poeta é isto: ter
consciência da irrealidade de todas as coisas. E mesmo assim amá-las. Amá-las
desesperadamente. Como amei você.
Otto
Leopoldo Winck
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