Tangência de ferros nos trilhos
rasga em uma ternura que ofende
de tão bela.
Existirá paisagem de dor mais fecunda
que trens rasgando trilhos?
Nuvem ao redor: que nuvem aquela?
Cenário trepida
por trás de uma cortina estremecida.
Até o ar se emociona
quando o trem se aproxima,
diante dele a ternura de açúcar fervido
balançando em dobras de olvido
Esquecer!
Ser este trem que parte e vai levando
diante dele a cortina:
nossos corações diluídos
acima dos trilhos.
Eu e você: recorda?
Recorda a fumaça do teu cigarro,
tua pele clara, o gozo líquido
-cortinas de açúcar.
Recorda?
Recordam eternamente
trens triturando trilhos.
Bárbara Lia in Noir (2006)
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