terça-feira, 7 de abril de 2015

APONTAMENTOS DE PAISAGEM


Freme o tenso horizonte
Subjugado pelo peso de um céu
E tudo o que é meu cabe no bolso
Do casaco, sem contar
Esses óculos apontando para a frente.
O azul da abóbada, pleno,
Se esvai no leito indistinto
Da terra, ora verde, ora abóbora
E deste mirador, cimo da serra,
Cravo meus pés, fiando as horas.
O leito de terra se estende
Na distância, costurando a fusão
De ar, sua transparência lá no alto,
E as gretas, as rudes rochas dizimadas,
Feito água lá no longe deste chão.
É tudo o infinito sem alcance,
Mesmo este embaixo de meu corpo,
A sustentar peso e voo
Permitindo o alçar-se como um porto
Do qual parte o olhar – com ele roo
Toda a matéria que me separa.

Paulo Betancur




Um comentário:

Anderson Carlos Maciel disse...

Indistinta tarefa a da plenitude malograda pela linguagem sutil da opacidade. Enamoro-me desavergonhadamente de descrições assim tão perfeitas de estados mentais tão plenos e convictos. Há beleza em coisas duras, vagas e espiritualmente suscetíveis ao olho que as descreve, insuspeito e convicto de sua plenitude descritiva de tais sentimentos de transcendência afetiva pelas pedras regozijadas de companhia.

Bom dia. Amor universal e consciência cósmica de um novo tempo. Da lama ao caos e do caos à lama. Lindos poemas esta manhã, fazem-me companhia na ausência de meu bem-querer estatístico dos arremedos grotescos na tela da existência. Deixou-me vago e "destruto", poluto, e desavergonhadamente verborrágico, fluxos de ser esvaindo por veias sociológicas de "imparticipação". Sucesso a todos, encontrem a plenitude e a "solidez" mais "rígida".