domingo, 26 de abril de 2015

POESIA E PORRADA


para José De Paula Ramos Jr.

De tanto tomar porrada
pedrada cuspe tapão
engolir sapos
cobras e lagartos
mascar rancor
saco roto de pancadas
eu
insulto
calei.
E petrifiquei
recusa muda
feito coisa só res-
saca só sono só res-
sentimento.
Minha poesia nada rala
que de ira se irrigava
secou
esquecida e rara.
Só lia e nada
impactava.
Tédio recato tédio
nos versos alheios.
E eu repetia falas sagradas
estante estéril
mote metralha
no esforço
de relembrar
o inverso do bocejo:
“Estou farto do lirismo comedido”
“Fera para a beleza disso”
“Te escrevo fezes”
“Mas ainda não é poesia."
E agora que impera o chato
o gesto eco
o versinho pré-parnaso
o correto dito certo
pé no gesso
regrado
pé no saco
dispenso a pose polida
e disparo petardos
incertas pedras
chutes feridas
de pé descalço
arrisco sem meta
ou metro estimado.
Eu
insulto
revolto o gesto.
Solto minha rocha em versos
pedras-de-raio
estrelas cadentes
chuva de meteoros indigestos.
Porradas, vinde: voltei.

in Contracorrente (2000)


Frederico Barbosa 

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