sábado, 4 de abril de 2015

O SONHO E A PALAVRA


Casa dos Omaguás
O SONHO E A PALAVRA

Durmo e sonho poesia. Acordo. Traduzo-a em prosa. Contra a vontade, induzido por um cotidiano prosaico; parece restar apenas um mero registro. Quando me lembro – o mais das vezes – preciso acordar à noite e correr para a caderneta e num upa anotar o poema ou frase, ou mesmo um sentimento noturno. Quase sempre perco tudo ou quase. Parece haver uma hora da noite em que os sentimentos, palavras, ações, saem de sua fragmentação caótica e fazem um sentido – outro, diverso da prosa, que brutaliza a linguagem com sua razão estúpida. A poesia acontece de um certo jeito, parece atabalhoado, surreal e pura, palavra de fonte, talvez de um inconsciente fundo, origem de todos os princípios. A palavra vem límpida, parece de uma raiz primal, e amplia-se, rizomática, lapidar, arborescente. E esblandece como um sol interno. Vira música.
Agora todas as partes do ser estão religadas pela palavra. E eu posso me transformar em Eu. Falta agora o outro para a poesia acontecer na sua mais alta voz, como um sonho do mistério.

Hamilton Faria, junho 2014

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