sábado, 11 de abril de 2015

mangas


1
no sempre eram so as mangas
todos com nacos de manga nos dentes
com suco de manga na carne
depois a plantação de tomates
o dia inteiro na plantação de tomates
sem vontade de comer tomates
apanhar tomates com dedos sujos
sem tocar nas folhas ao redor dos tomates
sem manchar o verde nem o vermelho
2
um arranca outro põe os tomates
como soldados dormindo na caixa
de plastico com raspas cruas de madeira
horas demais colhendo tomates
depois de engolir fatias de tomate
no meio e no fim pedaços de tomate
depois ha sempre as pulgas
as pragas o veneno borrifado assim
como quem lava a cara ou as feridas
3
coberto de terra os dedos racham
dos pes e das mãos e a virilha queima
mas ha sempre a doçura das mangas
roubadas assim no escuro
no centro infinito dos tomates
q se dividem como ratos e pulgas
todas essas caixas de tomate
não pagam as fatias de tomate
inda menos os nacos crus e cozidos
4
nem sei nem sabemos pra q tomates
esses oceanos de tomate essa agonia
de todos agarrados assim nos tomates
pois so se vive pra produzir tomates
pra colher pra fazer correr o negocio
essa coisa sem fim essa coisa doente
os senhores de tudo não fazem nada
mas tudo corre como uma roda de ratos
todos juntos pra chegar em nada
5
deve ser porisso q me desespero
vivo e gasto e perco a vida bem assim
so não sei porq nem pra q tudo isso
nem porq vivemos esperando
so esperando sem saber o q vira
talvez o fim da fome o fim do mundo
se não fossem essas mangas
tariamos todos feito essas pulgas
vivendo so so pra chupar nosso sangue

*
Alberto Lins Caldas

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