1
● no sempre eram so as mangas ●
● todos com nacos de manga nos dentes ●
● com suco de manga na carne ●
● depois a plantação de tomates ●
● o dia inteiro na plantação de tomates ●
● sem vontade de comer tomates ●
● apanhar tomates com dedos sujos ●
● sem tocar nas folhas ao redor dos tomates ●
● sem manchar o verde nem o vermelho ●
2
● um arranca outro põe os tomates ●
● como soldados dormindo na caixa ●
● de plastico com raspas cruas de madeira ●
● horas demais colhendo tomates ●
● depois de engolir fatias de tomate ●
● no meio e no fim pedaços de tomate ●
● depois ha sempre as pulgas ●
● as pragas o veneno borrifado assim ●
● como quem lava a cara ou as feridas ●
3
● coberto de terra os dedos racham ●
● dos pes e das mãos e a virilha queima ●
● mas ha sempre a doçura das mangas ●
● roubadas assim no escuro ●
● no centro infinito dos tomates ●
● q se dividem como ratos e pulgas ●
● todas essas caixas de tomate ●
● não pagam as fatias de tomate ●
● inda menos os nacos crus e cozidos ●
4
● nem sei nem sabemos pra q tomates ●
● esses oceanos de tomate essa agonia ●
● de todos agarrados assim nos tomates ●
● pois so se vive pra produzir tomates ●
● pra colher pra fazer correr o negocio ●
● essa coisa sem fim essa coisa doente ●
● os senhores de tudo não fazem nada ●
● mas tudo corre como uma roda de ratos ●
● todos juntos pra chegar em nada ●
5
● deve ser porisso q me desespero ●
● vivo e gasto e perco a vida bem assim ●
● so não sei porq nem pra q tudo isso ●
● nem porq vivemos esperando ●
● so esperando sem saber o q vira ●
● talvez o fim da fome o fim do mundo ●
● se não fossem essas mangas ●
● tariamos todos feito essas pulgas ●
● vivendo so so pra chupar nosso sangue ●
*
Alberto Lins Caldas
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