quinta-feira, 12 de novembro de 2015

 Enquanto isso, chegam as notícias de que uma citação de Simone de Beauvoir gerou repúdios públicos de câmaras de vereadores de cidades com universidades em seu meio. Que o Ministro da Educação foi convidado a explicar-se frente a uma comissão do Congresso, dominado como está por fanáticos religiosos perigosos (enquanto brasileiros gritam contra o Islã do outro lado do mundo). Mas serão combatidos com Simone de Beauvoir. Amém. Vamos adicionar Simone Weil. E Hannah Arendt. Vamos adicionar Hilda Hilst. E Muriel Rukeyser. Vamos adicionar Stela do Patrocínio. E Shulamith Firestone. Vamos adicionar Antonieta de Barros. E Emmeline Pankhurst. Devíamos dar a eles mais razões para ter medo. Seus privilégios vão chegar ao fim. E quem não reconhece a guerra vira bucha de canhão.

“Agora não se fala mais
toda palavra guarda uma cilada
e qualquer gesto é o fim
do seu início”

— Torquato Neto

 Penso na arqueologia dentro do próprio território brasileiro. Penso em Luzia, nome que foi dado aos restos mortais mais antigos encontrados no Brasil. Aquela mulher. Uma mulher. Nossa matriarca. Luzia. Brasil. Como gostamos de nomes luminosos nesta terra! Enquanto isso, “mar de lama” deixou de ser, para todo o sempre, metáfora no Brasil. E vamos vivendo nossos últimos dias de paupéria, como no título daquele volume que um dia reuniu a poesia de Torquato Neto.

 Ricardo Domeneck


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