Naqueles maravilhosos tempos antigos, a vida em família era
muito curiosa. Nossa família pelo lado do meu pai Lauro Volaco era bem grande e
quase todos moravam em Pirai. Então, tínhamos um bando de primos de todas as
idades, o que permitia que sempre pudéssemos brincar com outros que pensassem
como nós e suportassem as nossas brincadeiras. As primas eram mais delicadas e
não entravam em qualquer uma delas, sendo muito seletivas. Nossos pais quase
não deixavam que fôssemos para a casa dos primos e primas para brincar, pois
sabiam que mesmo sob as vistas dos nossos tios, não era fácil conter os nossos
arroubos de loucura. Além do mais, tínhamos um quintal enorme e ainda a chácara
maior ainda no fundo do quintal. Mas, em ocasiões especiais e dependendo do bom
comportamento e principalmente das boas notas no grupo escolar, podíamos
brincar por tempos determinados e acordados previamente, na casa deles. Era uma
delícia. E mais ainda, se tivéssemos sido espetaculares (o que era meio raro),
podíamos passar alguns dias de férias nas duas casas de tios que já moravam em
Castro: o tio Juca e a tia Ivone.
Aí, estávamos no paraíso, pois nossa liberdade era ampliada
muitas vezes e eles nos deixavam brincar em territórios mais amplos que
simplesmente os quintais das suas casas, que também eram enormes. Numa destas
idas para Castro, meu primo Ivoniel e seu irmão Norton, nos levaram para um
tanque em que umas mulheres lavavam roupa. Não demorou muito para estarmos
nadando dentro do tanque. O interessante é que eles não entraram. Achei que era
por medo e como o Tercis e eu desconhecíamos este componente, não esperamos
duas vezes. Só que vimos haver alguma coisa errada, pois eles não eram mais
santinhos que nós. Insistiram tanto, que saímos do tanque, com a roupa do corpo
toda molhada, pois não tínhamos levado calção. Então veio a bomba de notícia:
nos disseram que aquele tanque era frequentado por leprosas e que era uma
doença que pegava por contato. Ficamos apavorados, pois o contato tinha sido
completo com a água que elas usavam.
Chegando em casa da tia Ivone, além de uma bronca, ela
reforçou a história das leprosas. Durante dias e noites, meses e acredito que
até um ano, ficávamos vendo se não apareciam manchas que iriam corroer posteriormente
o nosso corpo até que tivéssemos que ser isolados num leprosário, com partes
deles sendo consumidas pela doença e depois caindo aos pedaços até
desaparecermos em vida.
COLETÂNEA DE CAUSOS, CRÔNICAS E POEMAS "PIRAÍ DE ANTIGAMENTE"
(Lauro Volaco)
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