(Lauro Volaco)
Sempre fui uma criança muito curiosa e tudo o que eu pudesse
conhecer me interessava. E sempre que podia, fazia um montão de perguntas para
quem estivesse por perto ou entendesse daquilo que eu estava conhecendo.
Um dia meu pai iria umas entregas na vila de uma serraria
que pertencia à família Sguario, e como estava em férias, pude ir junto. A
regra era a seguinte: cada dia revezava com meu irmão para acompanhar as
entregas que ele fazia para seus clientes. Os dois juntos nem pensar, pois era
certeza que o sossego acabaria para quem estivesse por perto.
Eu não imaginava como poderia ser uma serraria, mas tinha a
impressão que seria muito chato. Mas, ao chegar lá, comecei a me impressionar
com alguns operários movimentando toras enormes, com uma facilidade incrível,
parecia até que não faziam estorço. Duas ferramentas em particular me
impressionaram: uma era um grampo em formato de “U”, pontudos nas duas pontas,
que eram cravados nas extremidades das toras. Com eles, puxavam enormes troncos
para onde queriam. Mas a que eu mais gostei foi de um gancho articulado, com
uma espécie de “anzol”, que servia para fisgar a tora, movimentar, levantar,
nivelar e rolar as que iriam ser transportadas e cortadas. A tora obedecia ao
operário muito rapidamente, pois parecia entender que se não obedecesse,
levaria como castigo mais uma fisgada para fazer o que ele queria.
Mas ainda não tinha visto nada, pois quando me aproximei do
local onde estavam as serras é que vi maravilhas em meio a um barulho
ensurdecedor. Naquela época não existia protetor auricular e eu senti, no meio
do meu cérebro, o gemido da serra abrindo a tora para produzir o que o mestre
serrador tinha planejado. Perguntei como era chamado aquele trabalho e ele me
falou: “desdobro”. Fiquei pensando: “como é burro! Esta palavra nem deve
existir, ele deve ser um caipira analfabeto! Só depois de alguns anos, em outra
serraria no Turvo, aprendi que aquilo era uma operação muito valorizada, pois o
lucro ou não da serraria, dependia deste profissional. Graças a ele, era
possível fazer um melhor aproveitamento da madeira e ainda retirar as peças que
tinham o maior valor de mercado. Ele é que sabia como fazer o melhor corte para
que mesmo os subprodutos inevitáveis, como as costaneiras, fossem aproveitados
e comercializados. Tudo numa serraria era aproveitado, menos o ruído da serra.
A vontade que eu tinha era passar o dia inteiro ali, vendo
todas as operações e aprendendo um pouco mais daquela atividade. Pensei em ,
quem sabe um dia, trabalhar numa serraria e ser o homem que decidia como
processar o corte economicamente mais rentável. Foi como se eu tivesse acordado
de um sonho quando fui chamado para irmos embora, pois o que tinha sido o
motivo de nossa ida nesta serraria, já tinha sido realizado. Foi a primeira
fábrica que conheci na minha vida e a impressão ficou indelével. Queria crescer
logo para comandar homens e máquinas, transformando para melhor, tudo o que
estivesse sob os meus domínios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário