sábado, 20 de fevereiro de 2016

QUARESMA


Cego de tua luz,
atravesso as areias ardentes
que me separam de ti.
Há dias não provo pão,
não bebo água,
não ouço voz humana.
Serpentes e harpias
me acompanham. Espíritos imundos
me alucinam. Sei que o trajeto
é longo e não há oásis
nem haverá maná no caminho.
Me cobri de cinzas para lembrar
que sou pó. Que tudo é pó.
Que não há nada mais que o pó.
No entanto, aqui dentro,
junto à sede, junto à fome
que me excruciam,
arde este sonho, este desejo
que não tem medidas nem horizontes como os desertos.
(E essa luz, fora e dentro de mim,
que me impulsiona
para o meu fim.)


Otto Leopoldo Winck

Nenhum comentário: