segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

NO COMANDO

Quando contei a historinha do que fazíamos na fazenda do Dr. Miró, me veio uma lembrança muito gostosa de outra experiência infantil ocorrida lá. Eu tinha dez anos naquela época e já me achava um adulto para aprender a dirigir. O meu irmão e eu já tínhamos experimentado fazer várias coisas simples, como sentar no colo do pai e dirigir só tocando na direção, depois ele nos deixava trocar de marcha dizendo qual a hora certa, e com ele pisando na embreagem. Mais tarde, acelerávamos e dirigíamos sentados ao lado dele. Fomos amadurecendo nossas experiências para um dia, dirigirmos sozinhos. Quando? Não sabíamos, mas esperávamos que não demorasse muito. Numa das vezes que passamos o dia lá na fazenda, meu pai foi nos buscar para virmos dormir em nossa casa. Como o Francisquinho já dirigia carro e até trator, me senti em inferioridade, pois não queria admitir que ele era melhor que eu em alguma coisa. Resolvi então me encher de coragem e pedir ao meu pai que me deixasse dirigir, argumentei que já sabia tudo e que estava preparado para dirigir sozinho. Ele ficou só me olhando e não falou nada. Quase derreti, pois não sabia se a reação dele era de aprovação ou não. Então, ele me disse para que eu esperasse para ele terminar a conversa com o Dr.Miró e depois fomos até o carro. Estava esperando que ele sentasse ao meu lado, para ir me dando instruções enquanto eu dirigia, pois aquilo seria a coisa mais natural do mundo, mas não foi o que aconteceu. Eu não esperava que meu pai confiasse tanto em mim, pois ele me deu a chave e ficou fora do carro. Eu perguntei: “não vai junto”? E ele, com sua tranquilidade de sempre, falou: “você não disse que sabia dirigir? Vá em frente”.
Sabe quando você quer muito uma coisa que é considerada quase impossível e alguém diz para você: “pode, você consegue?” a perna amolece de tanta adrenalina. Neste momento o Francisquinho e o Tercis subiram no carro e eu dei partida, lembrando antes todos os passos para tal. Tenho que confessar, o carro saiu aos “soquinhos”, mas o carro não morreu e em seguida eu estava dirigindo sozinho. É uma sensação deliciosa o pai confiar em você, a ponto de largar seu carro para satisfazer o seu sonho, ainda mais com aquela idade! Meu coração parecia que ia saltar pela boca, o ritmo cardíaco, em total disparada e totalmente descontrolado e um pouco de suor vazando pelos poros, parece que querendo aliviar minha adrenalina.
A partir daquele dia, nunca mais fui o mesmo! Parecia que eu tinha aumentado mais uns três centímetros na minha altura, de tanto orgulho de poder dirigir e mais ainda, não ficar em posição de inferioridade em relação ao Francisquinho.

Lauro Volaco
COLETÂNEA DE CAUSOS, CRÔNICAS E POEMAS "PIRAÍ DE ANTIGAMENTE"

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