(Lauro Volaco)
Estava me esquecendo de contar uma das minhas peripécias na
qual passei um dos maiores medos de altura da minha vida. Ao mesmo tempo,
lembro-me da fartura de abóboras existente em Piraí dos velhos tempos.
Espero que você goste de causos, pois este é um que quero
contar com calma.
Certo dia meu pai convidou-nos, meu irmão e eu, para irmos
para uma fazenda de um amigo dele, buscar abóboras. Achamos estranho, pois
tínhamos também abóboras, morangas, mogangos, gila, e sei mais lá quantas
espécies plantadas no quintal de nossa casa. Mas naquela época, filho não
ficava perguntado para o pai sobre tudo o que acontecia. Além do mais,
gostávamos de sair para outros lugares que não eram alcançados pelos olhos de
lince da minha mãe, e sempre íamos pensando em alguma “arte nova”, pois
gostávamos de aventuras perigosas. Fomos com a nossa caminhonete “de Soto” e
meu pai levou também o tio Rubem e mais um empregado. Para que tanta gente, eu
ainda não sabia, mas devia ser muito trabalhoso o que ele iria fazer.
Chegando à fazenda, fomos recebidos pelo capataz que tinha
de cor todas as instruções recebidas do patrão, e foi conosco para uma
plantação enorme (estou falando enorme mesmo) de abóboras. Descia e subia
morros e não se conseguia avistara o fim daquela plantação. Falou que podíamos
pegar quantas abóboras quiséssemos e foi junto nos ajudar.
Não precisa dizer que logo alegamos cansaço e fomos
liberados para brincar. E aí foi que morava o perigo. No topo de um daqueles
morros tinha uma árvore enorme e um cipó bem grosso que chegava quase ao solo.
Testamos o cipó e percebemos que ele aguentava o nosso peso junto e de mais uns
dois homens adultos, de tão forte que era. No começo, enquanto estávamos com a
adrenalina baixa, nos balançamos paralelamente à crista do morro, onde nossos
pés quase que roçavam no chão o tempo todo. De repente, pensamos: queremos um
percurso grande e não esta “porcariazinha” de deslocamento. E queremos testar
nossa coragem e o coração. Outra vez, balançando pouco, saíamos do topo do
monte pendurado no cipó e ficávamos a uns dois metros do chão, em direção à sua
base. Quem disse que ficou nisso? Aumentamos o trajeto, dando mais embalo. Aí a
coisa foi ficando séria e o medo cada vez maior, pois se não tivéssemos força
para ficar grudados no cipó, cairíamos bem alto em direção ao solo e ainda
rolaríamos morro abaixo. Então tivemos a ideia de puxar o cipó o mais que
pudéssemos para trás, e ainda ir empurrando com toda a força, para ele ficar o
mais alto possível do chão. A sensação de altura, misturada com a força que ia
minguando à medida que o tempo passava para fazer um ciclo completo, podendo ter
a possibilidade de morrer se soltasse do cipó, fez com que a adrenalina
chegasse ao ponto máximo. Imagino que a altura a que chegamos, era de uns
quinze metros acima do nível da encosta do morro. Uma escapada e era menos um
membro da família Volaco vivo. Felizmente, nosso santo era forte e sobrevivemos
com as mãos cheias de vermelhão de bolhas que estavam querendo aparecer. Pura
emoção! Só não enchi as calças por não ter outra para trocar e ser feio
demonstrar que tinha me borrado de medo.
Mas eu estava contando das abóboras: enchemos a caminhonete
até a borda da carroceria, com centenas de abóboras de todos os tamanhos e
peso. Sabe para o que era este estoque tão grande? Para alimentar nossos porcos
que moravam num mangueirão nos fundos da chácara, e assim baratear o custo e
também para ficarem com a carne mais limpa para o final de ano que se
aproximava. Seria um porco todo especial para servir nas nossas ceias e
jantares na época.
Delícia combinar tantas emoções numa coisa que para muitos
de vocês pode parecer sem graça, para alguns loucura ou desperdício, e outros
talvez imaginassem uma aventura ou ainda exibicionismo puro de crianças muito
loucas. Não importa, pois nós soubemos aproveitar aquela oportunidade para voar
no espaço e no tempo, literalmente! Sem asa e sem motor, embalados somente pelo
nosso destemor!
COLETÂNEA DE CAUSOS, CRÔNICAS E POEMAS "PIRAÍ DE
ANTIGAMENTE"
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