(Lauro Volaco)
Desde os velhos tempos de Pirai, lá já existia a “rádio
peão”. Não sei se você está familiarizado com esta expressão, mas resumindo: é
uma informação que se alastra com um pavio de pólvora, por todos os meios que
você possa imaginar, vinda de fontes não oficiais. A transmissão é de boca a
boca e em pouco tempo todo mundo sabe o que esta acontecendo. Nem sempre é 100%
verdadeira, mas chega próximo do fato. Cada um que repassa a informação
acrescenta ou retira alguma coisa, põe sua interpretação, dá uma pitada de sua
emoção e enfim, a notícia chega aos seus ouvidos.
Vou falar especificamente das notícias sobre falecimento de
pessoas conterrâneas e seu enterro, nos tempos em que eu era criança. Sempre,
pelo menos na hora do enterro, sabíamos que alguém tinha morrido, pois a nossa
Rua XV de Novembro era o caminho obrigatório para o único cemitério da cidade.
Daí para saber quem fora o escolhido, ficava muito fácil: uma pergunta para
quem passava e pronto. Se o “de cujus” era conhecido e amigo, do jeito que estávamos
vestidos, podia vir o comando da mãe para irmos ao cemitério prestar-lhe as
nossas últimas homenagens. Eu e meu irmão não gostávamos nada de ir a um
enterro, pois uma vez aprendemos que se você sentisse um arrepio sem nenhuma
razão aparente, era uma alma que tinha se aproximado de você. Como passávamos o
dia brincando, estudando, comendo ou dormindo, quase não dava tempo para
sentirmos arrepios. mas parece que quando entrávamos no portão do cemitério, um
enxame de arrepios acontecia. Dava a impressão que as almas ficavam alvoroçadas
com as crianças vivas e queriam convidar para morar com elas no campo santo.
Aquilo me assustava muito. Outra coisa que me vinha à memória é que existiam
casos de pessoas que eram enterradas vivas, pois passava o tempo regulamentar
do velório, depois do laudo que tinha virado defunto e como não davam sinal de
vida, eram levados para a cova. Contavam que só descobriam isto anos mais
tarde, quando iam remover os ossos e viam marcas de arranhões na tampa do
caixão. Eu ficava morrendo de medo de ao passar por um túmulo, alguém pedir
ajuda para sair da cova. O que me amedrontava ainda mais era quando se
realizava o enterro perto do anoitecer. Se tivesse que permanecer lá eu teria
provavelmente um ataque de nervos. Felizmente os coveiros tinham em seus
contratos de trabalho a hora do final do expediente: às 18h, e com isto estava
garantido que não se precisaria enfrentar as trevas.
Muitos anos mais tarde é que fui aprender que ter medo de
cemitérios chama-se “coimetrofobia”. Aprendi também que “tafofobia” é ter medo
de ser enterrado vivo e “tanafobia” é ter medo de morrer. Até hoje, se posso,
não vou a cemitérios, mas sim ao velório. de dia ou à noite, mas evito passar
aquele portão das almas, pois fico com medo que os arrepios das almas penadas
venham a me fazer companhia.
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