Vc descobrir onde comprar castanhas de Belém do Pará ou
açúcar mascavo do jeito que vc gosta. Ou descobrir um bar que vc tem prazer em
sentar sozinho num fim de tarde e beber uma cerveja. Ou onde tem o melhor
churrasco grego da cidade com a pimenta mais bagaceira e mais forte. Ou qual é
o melhor horário pra vc ir no cinema sozinho e que vc pode sentar em uma
poltrona sem ninguém por perto comentando o filme. A loja de discos que o cara
te atende com um puta sorriso no rosto (pq evidentemente ele sabe que vc vai
comprar muitos discos) e já começa a baixar da prateleira o que ele sabe que vc
gosta (ou seja, todos aqueles discos de rock sulista de uns caras cabeludos e
mal encarados ou aqueles de blues de uns negões desdentados). Ou a loja de
gibís que o cara te atende te dizendo o que chegou no último mês. Ou
simplesmente o fato de vc saber que no fim do ano depois de todo o trabalho que
vc teve, há uma chance (por mais remota que seja) de vc simplesmente entrar em
um avião e ir parar num lugar distante. Aquele lugar que vc simplesmente
admirava em cartões postais ou revistas de turismo. Ou simplesmente fazer uma
viagem de volta para dentro de si mesmo e entender satisfeito que vc jamais
conseguiria trair tudo aquilo que vc leu, ouviu e viveu desesperadamente quando
jovem. Pq ficar velho às vezes é só isso. Encontrar a sua pátria. Se manter
leal. E sábio. Com aquela cara de estúpido que vai enganar meio mundo. E eu
espero que engane mesmo. Eu acho que é bem melhor assim, principalmente se vc
prefere não se explicar tanto.
Mario Bortolotto
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