De Mara Paulina Arruda
Bebeu água na concha da mão. Estávamos as duas a receber o
vento de inverno sobre nosso rosto. Acocoradas embaixo da janela lembrávamos:
Naquele tempo tinha que tirar a criança do peito e ir trabalhar. A gente mal
tinha energia para estudar ou fazer outra coisa. Era do frigorífico para casa e
de casa para o frigorífico. Eu até hoje fico pensando como é que conseguimos
terminar o ensino médio. Mas meu marido não conseguiu. Ele diz que foi por
falta de tempo pra estudar. As crianças pequenas, a casa alugada, a comida para
pôr na mesa. Dias de muito sacrifício. E hoje agente está vendo eles criado,
saindo de casa, indo fazer suas vidas. Será que valeu tanto esforço? Por que no
fundo, bem no fundo a gente fica martelando as saudades da mocidade.
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