quarta-feira, 22 de maio de 2013

ACABEM COM ISSO ANTES QUE EXTERMINE


O Leminski um dia estava muito triste, me ligou e pediu uma “presa”. Naquela época eu sempre tinha um do bom e tirei a tarde para conversarmos. A Alice trabalhava na Umuarama Propaganda e as filhas, Áurea e a Estrela, estavam na escola. Fumamos unzinho e abrimos umas cervejas, a tristeza, aos poucos, foi se dissipando como a fumaça dos nossos intermináveis cigarros. Ficamos completamente loucos e, em altos brados, as profecias começaram a acabar com o mundo. Lembro de uma do polaco: ”Poeta, não são pessoas como nós que vão acabar com o mundo. A gente é outro papo, a gente vive de brisa e brasa, poesia e música. A gente é do tipo “que loucura”. A merda vai acontecer quando milhares de físicos nucleares desempregados começarem a ser contratados por um salário mínimo para serem artífices de artefatos nucleares que vão nos mandar pelos ares. Os psicopatas endinheirados, os imperialistas, esses caras, Thadeu, não tem a menor ideia do que seja viver com arte, paz e sabedoria. Eles querem é vender a sua mercadoria até o fim do mundo.” Rimos como só duas almas puras conseguem fazê-lo. E a tarde foi virando noite até chegar a Estrela. Hoje me lembrei dessa conversa e escrevi o texto que está no primeiro comentário. Leia antes que acabe.

ACABEM COM ISSO ANTES QUE EXTERMINE

não foi o sonho que acabou
foi o pesadelo que começou
aqueceram e entramos numa fria
a Terra não é uma refinaria

nem fábrica de bugigangas,
quinquilharias e miçangas
obaoba de índio era espelhinho
hoje qualquer iphonezinho

as cidades do mundo bombam
vendem e contam, montam e apontam
compram até o cu fazer bico
indústrias efeito estufa e maçarico

pra cada um, um carro atômico
linha de produção de gás carbônico
solitários indo a lugar algum
cantando skindolelê ziriguidum

vaidade vaidade, vai, idade das trevas!
toda essa multidão andando às cegas
e a calota polar tramando um calote
a sangue frio como o conturbado Capote

cabe um congresso na bolsa educação
enche a barriga do senado o vale refeição
os pobrinhos do vale gás, vale moradia,
vale tudo, vale uma vida de menor valia

e pensar que o paraíso morava aqui
andava sobre as águas calmas do rio Barigui
nem sei o que seria se o que foi ainda fosse
mas acabou-se o que era doce

antonio thadeu wojciechowski

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